As águas reflectem o sol e acolhem tempestades, meditam na calmaria da maré baixa e enfurecem-se na preia-mar. Dois lados antagónicos. Mas não há que temê-lo.
O oceano apenas é intenso, e querendo ou não, a coexistência entre o fundo índigo e a transparência de azul turquesa é necessária, tal como é necessário entender que com o nosso reflexo turquesa de corais e estrelas do mar coabita o índigo de predadores e adamastores.
As ondas que amedrontam alguém, aliviam o corpo de um outro alguém num dia de calor. Dá para perceber, não dá? O carácter dualista das ondas não importa, porque quer sejam pequenas, quer sejam grandes, há sempre um areal para as receber em cada uma das suas individualidades. Além disso, todas as ondas, dos mares mais tenebrosos aos mais plácidos, terminam com a mesma espuma branca das purezas e das pazes contidas. Por isso o areal não tem que temer o mar, apenas aceitar as suas marés.
Até no mar mais revolto vemos a mão de espuma branca no terminal do braço das ondas, qum sabe se à procura de outro braço, quem sabe se a oferecer conchas, quem sabe… E branco, para além de puro, não é o espelho de todas as cores, de todas as conchas? Por isso é que é tão importante haver sempre um areal que acolha as conchas perdidas e contidas no coração do oceano, sempre que as ondas as queiram libertar.
Eu nado em espelho de azul turquesa e estarei, brevemente, em maré baixa. E hoje vou rebentar as minhas ondas com espuma de arco-íris e deixar no areal as conchas que tenho perdidas cá dentro.
Pequena Grande Maldita F
gostei muito. adoro metáforas com água. é a minha costela caranguejo, certamente! 🙂