5ª Acta PGM – Insolentes

   Está na hora de fazer perguntas, caros senhores e caras senhoras. Perguntas que vos vão fazer rir, olhar para o lado e ir embora. Quem raio são vocês? O que fazem aqui? Como estão? De que fogem? Gostam de quem está ao vosso lado? Sois mais para o mau, ou mais para o bom? Que desejam? Começo eu, vou já em primeiro, para verem como não custa, que eu excedo a excelência, quando é para me envergonhar em público.

  Frequentemente, indago-me porque é que sou assim. Não é que não goste de mim, porque até gosto bastante e sou uma excelente influência para mim mesma (presunção e água benta, coitada!), mas é assim que tem de ser, não é? Ora, eu não sou do tipo mau a que estão acostumados, e não dou pela vossa presença até vos querer no meu palco e dar início à diversão, mas tenho um sorriso engraçado…

   Tenho uma tendência inata para rir em situações sérias ou fazer observações idiotas em momentos inoportunos, e normalmente adianta-se à minha fraca aptidão para me conter. Este meu lado inconveniente é fortemente produtivo no que diz respeito a criar episódios que, mais cedo ou mais tarde, se tornarão memoráveis, e nem sempre é numa perspectiva propriamente positiva.

   Gostaria muito de ter este ímpeto para me inspirar sem grande esforço e resultar em coisas de jeito, mas este só dá o ar da sua graça quando não é solicitado. Nem adequado. O que me ocorre sai-me da boca à velocidade da luz e liberta o seu pózinho de perlim-pim-pim, que esvoaça livremente e faz das suas. Parece que estou a ouvir a minha avó: “ai esta menina repenicada, magana!”; não fiques com comichões, avózinha: sou um disparate, mas um disparate docinho. É que os “de repentes” para ser insolente, despropositada e respondona, em dias de festa também dão para abraços!

   Maldita inconveniente, sou eu, prazer.

   Vim hoje aqui para exortar os meus pecados e descartar de uma vez só este dó de mestre de ilusão, do fascínio e do sumiço. Sinto-me optimista, mais à solta, por ter tentado e falhado. Tentei em vão combater, contornar, reinventar, reprimir, os meus tiques, as minhas taras, a malvadez da minha insolência. Acontece que, entre os meus defeitos e as minhas qualidades, que inevitavelmente se vão moldando com o tempo, tenho características que, não sabendo em qual dos dois se encaixam, me acompanham desde sempre: sou insolente e despropositada.

     Sai-me cara, a brincadeira. Não existe Terra do Nunca, mas eu sou uma criança traquina que se diverte a fazer os outros de parvos. Há sempre alguém que me quer de uma determinada maneira, alguém que quer um desafio, alguém que quer conquistar algo, alguém que não se deu bem no circo, ou na industria pornográfica, ou até mesmo no montanhismo.

   Enquanto não vou aonde me esperam, estou aqui, a pensar se encerro o caso de vez ou apelo recurso, depois de me ter já debatido intensamente com os meus demónios sobre a oportunidade romântica. Coisa mundana, sim. Enquanto não arredo pé da minha forte intuição, que me diz para ficar precisamente onde estou, reforço a minha argumentação com um medo incrível, esse que, entre piadas, me diz que quero mesmo é recreio. Antes não aparecer de todo que ficar inerte, à porta. Por outro lado, sou capaz de aproveitar a oportunidade tão boa, só por saber que é rara e mora longe – longe o suficiente para ficar longe por muito tempo. Sou detestável assim como sou, não presto, mas, pelos vistos, esta abelha tem mel.

   Entre tudo o que me é dado de mão beijada, o que eu gostava mesmo era de não me boicotar e de não me foder à grande, como sempre.

Pequeno Grande Maldito J

Pequena Grande Maldita F